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Greenwald detona neto de Brizola – Os ânimos continuam acirrados no Rio de Janeiro após a indicação de Marcelo Freixo para a presidência da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur).
O agora petista (leia aqui) chefiará o órgão, que é submetido à autoridade ao Ministério do Turismo.
O motivo da polêmica é que a nova ministra é Daniela Carneiro (União Brasil), conhecida como “Daniela do Waguinho” por ser esposa de Wagner dos Santos (União Brasil), o Waguinho, prefeito de Belford Roxo (RJ) e que é acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) de ter ligações com a milícia da Baixada Fluminense.
O MP afirma que Waguinho cometeu diversos crimes, como fraude a licitações, organização criminosa, dispensa ilegal de licitações, concussão (servidor que exige vantagem indevida) e peculato (crime cometido por servidor que se apropria de bens públicos).
Além disso, o grupo político de Daniela e de Waguinho mantém vínculos com a família do ex-PM Juracy Alves Prudêncio, o Jura, condenado e preso sob acusação de chefiar uma milícia na Baixada Fluminense (leia aqui).
Questionamento, ataque e bate-boca
Com base na polêmica, o jornalista norte-americano Gleen Greenwald, radicado no Brasil e que mora no RJ, fez uma postagem em tom crítico à Freixo, na qual lembra que o relatório do próprio Freixo sobre as milícias do Rio citava milicianos envolvidos com a família da agora ministra e sua chefe.
Ao notar a publicação, o vereador Leonel Brizola Neto (PT) respondeu de forma grosseira, insinuando que o jornalista deveria retornar ao seus país de origem através de uma expressão xenófoba: ‘Yankee go home’.
Foi o bastante para tirar Greenwald do sério, que respondeu agressivamente o ataque do neto mais novo de Brizola.
“Não me surpreende que você esteja anunciando que qualquer um que critique o PT e o governo Lula deveria ser forçado a deixar o Brasil. Infelizmente para déspotas fracos como você, a lei diz que, como marido e pai de brasileiros, tenho o direito de ficar para sempre.”, diz Greenwald, republicando um vídeo no qual o vereador sai em defesa do próprio jornalista quando este publicou a reportagem “Vaja-Jato”, que mostrou irregularidades na conduta do então juiz Sergio Moro e de procuradores da Força-Tarefa da Lava Jato, levando à anulação dos processos pelo STF.
Não me surpreende que você esteja anunciando que qualquer um que critique o PT e o governo Lula deveria ser forçado a deixar o Brasil.
Infelizmente para déspotas fracos como você, a lei diz que, como marido e pai de brasileiros, tenho o direito de ficar para sempre. 👇👇👇👇 pic.twitter.com/dV9ezXFWgJ
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) January 4, 2023
Leonel Brizola Neto se defendeu argumentando que havia mudado de ideia. “Só não muda de pensamento quem não raciocina”, escreveu.
Gleen Greenwald então aplicou outra resposta dura contra o vereador.
“Você não mudou de ideia sobre nada. Você é só sem princípios. Você defende o direito dos jornalistas quando ajudam o seu lado e quer que eles saiam quando eles criticam o seu lado. Mas essa falta de caráter é comum para alguém cuja única conquista na vida é ter o sobrenome certo”, disparou.
Você não mudou de ideia sobre nada. Você é só sem princípios. Você defende o direito dos jornalistas quando ajudam o seu lado e quer que eles saiam quando eles criticam o seu lado.
Mas essa falta de caráter é comum para alguém cuja única conquista na vida é ter o sobrenome certo
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) January 4, 2023
O petista tentou se desviar, alegando que as críticas não nada a ver com o fato de Gleen ser jornalista, mas por “atitudes políticas pro imperialismo” do norte-americano.
Greenwald disparou então outro comentário explosivo contra o parlamentar, encerrando a discussão.
“Você é o filho inútil do privilégio e do nepotismo, que nunca fez nada em sua vida além de explorar as conquistas de sua família. E, claro, não era “imperialismo” quando me opunha ao impeachment de Dilma ou fazia reportagem sobre a VazaJato. Então vc mostrou a língua em aplausos”, finalizou.
Você é o filho inútil do privilégio e do nepotismo, que nunca fez nada em sua vida além de explorar as conquistas de sua família.
E, claro, não era "imperialismo" quando me opunha ao impeachment de Dilma ou fazia reportagem sobre a VazaJato. Então vc mostrou a língua em aplausos
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) January 4, 2023
Quem é
Glenn Edward Greenwald (Nova Iorque, 6 de março de 1967) é um escritor, advogado especialista em direito constitucional dos Estados Unidos e jornalista norte-americano, radicado no Rio de Janeiro desde 2005
Em junho de 2013, através do jornal britânico The Guardian, Glenn Greenwald foi um dos jornalistas que, em parceria com Edward Snowden, levaram a público a existência dos programas secretos de vigilância global dos Estados Unidos, efetuados pela sua Agência de Segurança Nacional (NSA).
A série de reportagens sobre o programa de espionagem americana fizeram o The Guardian e The Washington Post ganharem o Prêmio Pulitzer de jornalismo em 2014.
No Brasil, Glenn foi agraciado com o Prêmio Esso de Reportagem, por artigos publicados no jornal O Globo acerca do sistema de vigilância virtual dos Estados Unidos em território nacional.
Entre as revelações, a de que o governo dos EUA espionou a então presidente Dilma Rousseff (PT) e a Petrobras durante longo período, antes da presidente sofrer um processo de impeachment, que a retirou do poder em 2016.
Vaza-Jato
Em junho de 2019, o periódico virtual The Intercept publicou matéria com vazamento, de fonte anônima, de conversas no aplicativo Telegram entre o ex-juiz Sergio Moro e o promotor Deltan Dallagnol no âmbito da Operação Lava Jato com evidências de “discussões internas e atitudes altamente controversas, politizadas e legalmente duvidosas da força-tarefa da Lava Jato”.
As transcrições sugerem que Moro cedeu informação privilegiada à acusação, auxiliando o Ministério Público a construir casos, além de orientar a promotoria, sugerindo modificação nas fases da operação Lava Jato.
Também mostram cobrança de agilidade em novas operações, conselhos estratégicos, e antecipação de pelo menos uma decisão. Moro teria ainda fornecido pistas informais e sugestões de recursos ao Ministério Público.
As transcrições demonstrariam ainda que a promotoria teria receio da fragilidade das acusações feitas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que teria buscado combinar previamente elementos do caso.
A reportagem caiu como uma bomba no país e culminou com a anulação de todos os processos julgados por Moro na Lava-Jato, que foi considerado como um juiz parcial pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
(Por Thiago Manga)
(Foto: Montagem/Reprodução)