Share This Article
A deputada federal reeleita Sâmia Bomfim (PSOL-SP) afirmou que a maioria da bancada do PSOL deseja ter uma posição independente no futuro governo Lula e defende que a sigla não aceite cargos na administração federal, de acordo com entrevista dada à jornalista Monica Bergamo. No entanto, o presidente da legenda, Juliano Medeiros, negou que a fala da deputada reflita o pensamento predominante no partido.
“A estrutura de governo é muito sedutora. Não é um aspecto moral ou individual, mas ela molda a posição, molda a ideologia partidária. A gente acha que se o PSOL se enveredar por esse caminho agora, pode perder um pouco da sua função, da sua existência”, explicou Sâmia.
Para ela, aceitar cargos no governo significa abrir mão de defender pautas de esquerda no Congresso, o que o PT não fará pelas alianças que já costura com a direita para compor uma base ampla de governança.
“Temas relativos a direitos humanos, por exemplo, é muito comum que não sejam pautados em função de acordos feitos com fundamentalistas, com setores mais conservadores. A gente quer manter a independência para seguir pautando. Essa é a nossa vocação no Parlamento”, disse.
Ao mesmo tempo que apoia a implementação do programa de Lula, Sâmia diz que a economia é outro ponto que deverá despertar divergências. “O PT vai, muito provavelmente, buscar uma saída mediada com as pressões do mercado, como está buscando agora”, avaliou,
Segundo ela, alguns parlamentares psolistas que seguem esta linha são Fernanda Melchionna (RS), Talíria Petrone (RJ), Erika Hilton e Glauber Braga (RJ). Apesar de admitir que não é unânime, Sâmia afirma que é maioria.
Este grupo acredita, inclusive, que a divergência é mais positiva para Lula do que a adesão, citando como exemplo a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara. Ao contrário do PT e do PSB, partido de Geraldo Alckmin, o PSOL decidiu não apoiar Lira e cogita até lançar uma candidatura própria, mesmo que não haja chance de ganhar.
“Eu questiono os hiperpoderes que o Arthur Lira vai ter na próxima legislatura. Não se propõe nenhum nome alternativo para disputar? Vai ser o voto da extrema direita, do centrão e da esquerda no Arthur Lira? Ele pode ter, então, 500 votos? Isso é positivo para o governo Lula? Não ter disputa democrática em torno de um tema tão fundamental que é a presidência da Câmara não é bom para o governo Lula.”
Há controvérsias
O deputado federal eleito Guilherme Boulos (SP) e o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, defendem que o partido integre o governo Lula. Os dois inclusive são parte do governo de transição e estão entre os cotados para assumir algum posto ou ministério na próxima administração.
Boulos, por exemplo, disputa com Marcio França (PSB-SP) o comando do Ministério das Cidades, numa tentativa de fortalecer seu nome para disputar a prefeitura de São Paulo em 2024.
Medeiros, por sua vez, já afirmou que tem certeza de que o partido não “virará as costas para Lula” após a publicação da entrevista de Sâmia.
“O Psol reunirá seu Diretório Nacional no próximo dia 17. Até lá teremos muitos debates sobre as tarefas do partido a partir de 1º de janeiro. Estou certo de que o PSOL não virará as costas para Lula e para o governo que ajudou a eleger. Vamos ajudar a reconstruir o Brasil”, escreveu em suas redes sociais.
Fonte: Folha de S.Paulo
Leia também: Lula cogita Alckmin na Fazenda após negar que vice seria ministro