Eduardo Giraldes afirma que caso a mulher, Júlia Lotufo, tenha informação sobre o presidente, ele tentará impedí-la de revelar em delação; diálogo ocorreu entre empresário e Bernardo Bello, acusado por ela de ter sido sócio do ex-PM
Ex-presidente e ex-patrono da escola de samba Unidos da Vila Isabel, Bernardo Bello Barbosa diz que a tentativa de delação premiada de Júlia Mello Lotufo, viúva do miliciano Adriano da Nóbrega, é “uma farsa”. Júlia acusa Barbosa de ter sido sócio de Adriano no “Escritório do Crime” e o mandante de pelo menos dez mortes executadas pelo ex-policial. Ela já gravou depoimentos para o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.
Segundo Bello, a viúva se associou à ex-cunhada dele, Shanna Harrouche Garcia, com quem está rompido, para “criar um fantasma” e proteger “alguém”. Adriano da Nóbrega foi segurança da família de Shanna, historicamente ligada à contravenção e ao carnaval do Rio.
“Eu afirmo veementemente que a Júlia está mentindo”, diz Bernardo Bello em entrevista à coluna.
Um dos trunfos que a defesa de Bernardo Bello acredita ter é o pedido de conservação da gravação de uma conversa entre ele e o atual marido de Júlia, o empresário Eduardo Giraldes, que é fabricante de azeite. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é citado no diálogo.
O presidente Jair Bolsonaro, em Brasília – Pedro Ladeira – 12.jul.2021/Folhapress
Bernardo Bello e Giraldes se encontraram em junho, antes que a proposta de delação de Júlia Lotufo viesse a público —mas quando já corriam rumores de que a viúva poderia colaborar com a Justiça e prejudicar Bello.
Investigada em processo que tramita na 1ª Vara Criminal Especializada do Rio, ela é acusada de lavagem de dinheiro a serviço da milícia. Está em prisão domiciliar, de tornozeleira, e tenta uma delação premiada para se livrar de eventuais penas e deixar o Brasil com o novo marido, Eduardo, que conheceu alguns meses depois da morte do capitão Adriano.
Na conversa com Giraldes, Bello afirma que os promotores não estariam interessados nele (“é óbvio que o que querem não é o bobalhão aqui”), mas sim que a viúva do miliciano “fale de [Jair] Bolsonaro”.
O capitão Adriano era ligado à família do presidente da República e foi citado na investigação que apura a prática conhecida como “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro quando ele era deputado estadual pelo Rio de Janeiro. A mãe e a primeira mulher do miliciano trabalhavam com o parlamentar e teriam repassado parte de seus salários ao esquema.
“Não vai falar”, responde o atual marido de Júlia sobre Bolsonaro. “Se ela souber, e ela quiser falar”, emenda Bernardo Bello. “Mas se souber, eu também não vou deixar ela falar”, segue Eduardo Giraldes.
Bernardo diz então acreditar que, se citar Bolsonaro, vão acabar com Júlia “de verde, amarelo, azul e branco”.
“Se ela não quiser falar… meu irmão, até porque, sabe por quê? Vai acabar com a vida dessa menina”, afirma o ex-presidente da Vila Isabel.
O marido de Júlia concorda: “E com a minha”.
Fonte: Folha de São Paulo