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Taxa de Juros – O Comitê de Política Monetária do Banco Central anunciou na quarta-feira (16) que decidiu aumentar a taxa Selic em 0,75 ponto percentual. É a terceira decisão consecutiva de alta da taxa básica de juros, que chega a 4,25% ao ano.
O novo ciclo de alta da taxa de juros ocorre em um contexto de retomada da atividade econômica após o choque da chegada da pandemia de covid-19 em 2020. Além disso, o momento é de alta dos preços: a inflação acumulada em 12 meses até junho de 2021 foi de pouco mais de 8%, maior nível desde o segundo semestre de 2016.
A decisão do Banco Central está ligada ao movimento de alta inflacionária. Neste texto, o Nexo detalha essa escalada dos preços e conversa com economistas para entender se a Selic mais alta será capaz de conter a inflação.
Os juros e a alta da inflação em 2021
A taxa Selic serve de referência para a definição dos juros cobrados pelos bancos em empréstimos, o retorno de títulos do Tesouro e até o rendimento da caderneta de poupança. O vídeo abaixo explica como funciona a Selic e como o Banco Central a opera.
A Selic é o principal instrumento da política monetária do Banco Central, cujo objetivo central é o controle da inflação. Desde 1999, o Brasil adota um regime de metas de inflação. O Banco Central estipula metas para a variação de preços em um ano, com uma margem para mais e outra para menos – as chamadas bandas. Ele age para manter a inflação dentro desse objetivo, usando a taxa de juros como instrumento. Se a inflação está alta, o Banco Central aumenta os juros; se a inflação está baixa, há espaço para reduzir a Selic.
Em 2021, o centro da meta da inflação é de 3,75% ao ano. Considerando as bandas, os preços podem variar de 2,25% ao ano (piso da meta) a 5,25% ao ano (teto da meta). Em maio de 2021 – mês com dados mais recentes divulgados –, a inflação acumulada em 12 meses ficou em 8,06%, acima do teto da meta. É o que mostra o gráfico abaixo.
PREÇOS EM ALTA
Trajetória de inflação e metas no Brasil. Bem acima do teto em 2021
Entre os produtos que estão puxando a inflação em 2021 está a energia elétrica – a conta de luz está ficando mais cara em meio à crise hídrica e elétrica. Além disso, combustíveis e outros derivados de petróleo – como o gás encanado e de cozinha – estão subindo desde o início do ano. Por fim, os alimentos também estão em alta, em movimento ligado ao boom internacional de commodities, que é incentivado pela recuperação de economias como China e EUA.
O aumento da Selic sob análise
O Nexo conversou com economistas para entender os efeitos da taxa de juros mais alta sobre os preços e sobre a economia brasileira em 2021.
Fábio Terra, professor de economia da UFABC (Universidade Federal do ABC)
Juliana Inhasz, professora de economia do Insper
A alta dos juros será efetiva para conter a inflação?
FÁBIO TERRA Precisamos olhar para os canais de transmissão da política monetária. Neste momento, o que o BC mira, sobretudo, são dois canais. Um é continuar ou intensificar o processo de valorização do câmbio [do real em relação às moedas estrangeiras], que vem acontecendo desde finais de abril. Isso se torna de maior importância agora, porque os dados de inflação nos EUA estão vindo com alguma aceleração, e isso talvez motive alguma mudança na taxa de juros e do comportamento do Federal Reserve [o Banco Central americano] no curto prazo. Se o Banco Central não mexer nos nossos juros aqui e o Banco Central americano mexer nos juros lá, isso causa um efeito de depreciação do câmbio aqui.
Outro canal é o canal das expectativas, que acaba ressoando em alguns caminhos. Um deles é que definidores de preço no Brasil [os agentes que decidem quanto cobram de bens e serviços, como donos de negócios], quando percebem o IPCA e outros índices estão em um patamar alto, começam a fazer reajuste de preço. E o Banco Central quer fazer com que as expectativas desses marcadores de preço deixem de olhar para uma inflação mais alta no curto e médio prazo – ou seja, final de 2021, mas, sobretudo, 2022.
Se vai ser efetivo ou não, depende de muitos fatores. A política monetária não tem uma ação direta na economia. Se olharmos para a política fiscal, toda vez que o governo faz um gasto público, isso já é automaticamente renda para quem recebe esse gasto – uma empreiteira, um professor ou um policial federal. A política monetária é indireta. O Banco Central mexe a taxa de juros e, com isso, tenta fazer com que os agentes econômicos e a própria sociedade sigam o caminho que o BC pretende. Mas o Banco Central não tem controle direto sobre isso. Além disso, a política monetária também demora a produzir efeitos. Os cálculos são estimados de efeitos vindo entre 6 e 9 meses. Então, além de difícil, é demorada.
JULIANA INHASZ Ela deve auxiliar, mas é difícil dizermos se vai ter completo êxito. Hoje, a nossa inflação não é uma inflação que vem porque a demanda é muito alta, como em outros tempos. É uma inflação que vem porque os custos de produção estão mais altos. Uma parte da inflação vem dessa pressão que temos na taxa de câmbio, que pressiona os preços dos importados. O Brasil importa muitos insumos e também produtos acabados, que chegam muito mais caros. Dependemos de produtos importados para nossa cadeia produtiva, e dependemos de importados para suprir a demanda da população.
E hoje também sofremos um efeito interno que é o fato de que estamos com alguns produtos brasileiros muito valorizados lá fora. Um exemplo é a carne bovina, que começamos a exportar muito mais, e aí diminui a disponibilidade da produção na economia doméstica.
Quando o Banco Central aumenta essa taxa de juros, ele está, na verdade, tentando conter essa inflação que vem principalmente dos importados, porque um aumento da taxa de juros deve tornar o Brasil um pouco mais atrativo aos olhos dos investidores estrangeiros, fazendo com que a taxa de câmbio fique um pouco mais baixa
Tem uma parte da inflação que o Banco Central consegue de fato segurar, mas tem outra que ele não vai conseguir segurar, porque não está no controle dele. Uma parte da nossa inflação é advinda do fato de que também sofremos com problemas sazonais e climáticos. A energia elétrica mostra isso, que não controlamos o clima – a estiagem tem sido muito prejudicial para a produção de energia, o que faz com que tenhamos que pagar tarifas mais altas. E isso também pressiona a inflação. Então não conseguimos dizer se a política vai ser completamente efetiva. Mas considerando que esses eventos que não controlamos não devem ser tão exacerbados – nada muito fora dos planos do Banco Central –, devemos esperar alguma efetividade sim da política de aumentar juros.
A alta de juros pode afetar a recuperação econômica em 2021?
FÁBIO TERRA Algum impacto pode ter, porque com a Selic – que é a taxa de juros de curto prazo – subindo, pode ser que mais pessoas procurem aplicações financeiras que são muito próximas da Selic [em vez de fazer investimentos mais ligados à produção].
Mas não acredito que esse impacto vai ser muito grande. Porque o que mais impacta a economia não são os juros Selic de curto prazo, mas sim os juros de longo prazo. Os juros de longo prazo caíram em abril e maio, mas até meados de abril estavam subindo muito rapidamente.
Quando o Banco Central sobe a taxa curta, o caminho das expectativas também se processa sobre a taxa longa de juros. O Banco Central pagando juros curtos maiores faz com que os agentes deixem de embutir maior expectativa de inflação nos juros longos, fazendo com que os juros de longo prazo fiquem menos em tendência de alta ou, pelo menos, mais estáveis. E essa taxa de longo prazo é a que importa efetivamente para a atividade econômica.
JULIANA INHASZ Pode afetar. Por um lado, o Banco Central joga os juros para cima e faz com que o preço dos importados fique mais próximo ao que tínhamos antes, com uma taxa de câmbio menor. Por outro lado, o problema é que a taxa de juros mais alta inibe o consumo na medida em que, para consumir, é preciso ter dinheiro, e quem não tem dinheiro precisa se financiar. E é um momento em que muita gente está sem renda e sem emprego. E o custo desse financiamento fica maior, o que coloca uma trava nos financiamentos e no impulsionamento do consumo.
Para o longo prazo, essa taxa mais alta também desestimula o investimento produtivo. A taxa mais alta também impede que pessoas que gostariam de investir no lado produtivo o façam, porque elas vão pagar um custo maior de pegar um empréstimo desse capital. Então devemos ter um impacto negativo de conter um pouco o avanço do consumo no curto prazo, e de gerar condições que não são tão favoráveis à elevação do investimento no médio e no longo prazo.
Fonte: Nexo
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