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Vereador de Embu pede cassação de colega preso por racismo – Único vereador de oposição na Câmara Municipal de Embu das Artes, Abidan Henrique (PDT) protocolou um pedido de cassação de mandato contra o presidente da Casa, Renato Oliveira (MDB), preso na semana passada por injúria racial e desacato à autoridade, no Rio de Janeiro.
O parlamentar de 24 anos é estudante de Engenharia Civil na USP e tem atuação voltada para projetos relacionados à Educação.
“Primeiro, pelos fatos que já temos como prova contra o presidente serem muito contundentes. Então tem o caso de injúria racial, que tem testemunhas, e o delegado está bastante confiante no andamento do processo. Segundo, temos as cenas de desacato à autoridade que foram muito claras nos vídeos que circularam na internet. O pedido de cassação já foi feito se embasando na quebra de decoro parlamentar por esses dois fatos.”
Apesar de ser o único parlamentar de oposição na cidade, o pedetista demonstra otimismo sobre a possibilidade de cassação, listando fatos que considera como ‘quebra de decoro’ e apostando na comoção popular e na indignação da população de Embu das Artes para que o pedido seja aceito e Renato Oliveira seja julgado pela Comissão de Ética da Câmara.
“A comoção pública, a indignação da população foi muito grande na cidade. Há uma grande pressão popular. Um abaixo-assinado pedindo a cassação já possui 600 assinaturas. Na quarta-feira (02) vai acontecer uma manifestação do movimento negro exigindo a cassação dele. Esse fato mancha a reputação dessa Casa Legislativa e também não condiz com as atitudes de uma autoridade pública.”
Leia abaixo uma entrevista exclusiva concedida pelo parlamentar do PDT de Embu das Artes ao Brasil Independente.
BRI: O senhor está otimista sobre o pedido de cassação que acaba de protocolar contra o presidente da Câmara Municipal de Embu das Artes, Renato Oliveira (MDB)?
Abidan Henrique: Hoje, sou o único vereador de oposição na Casa, o prefeito tem na base dele 16 vereadores e o presidente da Câmara inclusive é o pupilo do prefeito, o homem de confiança dele aqui na Câmara. Mas apesar do cenário adverso, estou bastante confiante com o pedido de cassação.
Eu entendo que o presidente da Câmara mancha a reputação da Casa ao protagonizar tais atos.
“Um terceiro fato que o Fantástico trouxe é que além de tudo isso, o presidente da Câmara foi com o carro oficial para o Rio de Janeiro. Existem relatos do próprio dizendo que estava de ‘férias’ no Rio. Estava com a parceira dele, com amigos. Não divulgou nenhuma agenda oficial no Rio de Janeiro.”
Isso se enquadra, segundo o Ministério Público, como improbidade administrativa, ou seja, ele utilizou recursos públicos para fazer uma viagem particular. Isso é muito grave e eu entendo que é outro fato que corrobora para que o pedido de cassação dele aqui na Câmara.
A comoção pública, a indignação da população foi muito grande na cidade. Há uma grande pressão popular. Um abaixo-assinado pedindo a cassação já possui 600 assinaturas. Na quarta-feira (02) vai acontecer uma manifestação do movimento negro exigindo a cassação dele.
Então estou bastante animado para que os colegas se sensibilizem e que ele seja julgado pela Comissão de Ética da Câmara.
BRI: Como é a postura do presidente no dia-a-dia da Câmara? Já teve algum desentendimento com ele?
Abidan Henrique: Como disse, sou o único vereador de oposição. Eu tenho ideias mais progressistas, sou negro, cresci na periferia aqui de Embu das Artes.
A minha relação com ele é bastante bélica, visto que eu sou quem fiscaliza e cobra o governo municipal, e ele é o cara que defende. No entanto, avalio que essa relação entre Situação e Oposição, que é natural da política, infelizmente com o presidente da Câmara extrapolou.
“No dia-a-dia, ele tem uma postura autoritária e desrespeitosa com os vereadores. Inclusive, em uma audiência pública, ele me mandou ‘calar a boca’, apontando o dedo na minha cara e sendo muito agressivo.”
Existiram situações em que ele cortou meu microfone de maneira sucessiva, tentando me silenciar quando eu tentava fazer alguma crítica ao governo.
A minha visão é que ele já demonstrou diversas vezes que, ao ocupar cargo público de presidente da Câmara, de vereador, ele tem atitudes de intolerância, de desrespeito e de autoritarismo que não condizem com o cargo.
Não foi surpresa para mim esse caso, pois ele já tem um histórico muito ruim. Esse caso (injúria racial) foi lamentável para a história da nossa cidade e para a história da Câmara aqui de Embu das Artes.
“Outra coisa que acho importante mencionar: em um outro episódio, o Renato fica cortando meu microfone, impedindo a minha palavra e diz: ‘Aqui a Oposição vai ser tratada assim’. É bastante característico dele, que tem um perfil mais conservador, é bolsonarista e intolerante.”
BRI: O que achou do vídeo de Renato Oliveira se defendendo com um grande número de pessoas no fundo? Muitas delas negras, inclusive.
Abidan Henrique: Eu sou um vereador e um homem negro. Para mim, ele tentou teatralizar a situação, colocando pessoas negras atrás dele. Isso é muito desrespeitoso.
“É você utilizar as pessoas negras como um fantoche para tentar comprovar que você não é racista. É a pior forma de tentar se defender. A maioria das pessoas que estavam ali trabalham na prefeitura, então eu fico me perguntando se elas estavam ali por livre e espontânea vontade ou por pressão política.”
O fato que ele cometeu contra o Izac (denunciante) tem testemunhas e o delegado do cavê indícios fortíssimos de injúria racial.
“Eu acho que ele tem que responder e não pode ficar impune.”
Por Thiago Manga
Entenda o caso
Na manhã do dia 23 de janeiro, um domingo, o vereador e presidente da Câmara Municipal de Embu das Artes, Renato Oliveira (MDB), foi detido por injúria racial e desacato à autoridade no Rio de Janeiro.
Ele recebeu ordem de prisão dentro de uma piscina, em um condomínio na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
O vereador se recusou a acatar a ordem dos policiais e um deles entrou na água para prendê-lo. As imagens viralizaram na internet.
Assista a prisão ocorrida na semana passada:
O vereador tinha alugado um apartamento para uma temporada de quatro dias com um grupo de amigos.
Segundo registros das câmeras do condomínio, aos quais o Fantástico divulgou, Renato saiu no sábado (22) à tarde e só retornou no domingo (23) pela manhã.
Uma câmera em frente ao elevador registrou o momento.
E a imagem sugere que o vereador chegou com um comportamento aparentemente alterado.
Às 8h25, na porta do elevador, ele dá um soco nele mesmo, ao lado de uma mulher. Lá dentro, dá um tapa no próprio rosto.
“Eu não estava me agredindo. Eu estava conversando e gesticulando com ela. Pela crise de ansiedade que eu sofro, eu falo com as minhas mãos”, disse Renato.
Doze minutos depois, ele desce, cantando ou falando sozinho. Um morador entra no elevador e reclama que ele está sem máscara. Mas o vereador segue sem máscara em direção à piscina.
Quem o acusa de injúria racial é o supervisor do condomínio Izac Gomes, de 57 anos.
“Tenho que vistoriar e saber se a piscina já está pronta para ser aberta, e ela ia ser aberta às 9h. Ele já estava com a caixa de som ligada, já estava na fila falando: ‘Por que que você não abre a piscina?’. A piscina abriu. Ele botou a caixa de som dentro da piscina no último volume. Pedi a ele que não podia, ele retrucou e ali começou o bate-boca”, conta Izac.
Diante de tantas reclamações dos moradores, a polícia foi chamada. Mas segundo o depoimento das testemunhas, não adiantou. Até piorou. E a polícia foi chamada novamente.
“Ele bebia e me chamava: ‘Ô negão, ô negão’. Fui conversar com ele, botei a mão nele, ele mandou: ‘Tira a mão de mim, que você está suado. Eu estou cheiroso. Você está fedendo’. Eu falei: ‘Como é que é?’. ‘É. Você está fedendo. Todo preto fede’”, relatou Izac.
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