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Direto da Mooca
Por Felipe Barbosa e Aurélio Cotrim
Depois de Bolsonaro escancarar os bueiros do Brasil Profundo, chega de longe o cheiro das baratas do neofascismo (que nem ‘novo’ é) e do duguinismo (esse, sim, um novo fascismo) mascarando suas intenções e buscando atrelar suas imagens e discursos junto a partidos de esquerda nacional (vide PCO, PSOL, PDT, PCB e outros). Funciona assim: em grupos, buscam entrar ‘a reboque’ de candidaturas regionais, aparecendo em fotos junto a membros de respeito do partido (que não são do mesmo balaio que eles) para com isso se blindarem numa espécie de ‘verniz de confiança’ usando da esquerda como escada para obterem palco.
Não usam nossa bandeira, nossas cores, nem devem (mas fingem) gostar dos nossos líderes e figuras históricas. Eles basicamente citam elas para parecer bacana – mas, se você pergunta quem é a líder da Ação da Mulher Trabalhista, ou do PDT Diversidade, ou do Movimento Negro do PDT, eles falam do Enéas.
E convenhamos: nada mais repetido que reacionários tentarem se apropriar do desejo popular para depois entrarem na política nacional para então destilar no dia a dia o bom e velho ódio ao outro. Só para lembrar da efetividade da tática, Churchill (hoje um “herói” liberal) defendeu entre 1920 e 1930 que o fascismo italiano prestava um grande serviço à humanidade – e, nos Estados Unidos, os presidentes Eisenhower e Truman (ditos ‘nacionalistas’) concederam asilo e posições sociais a dezenas de condenados e foragidos nazi-fascistas.
Enéas Carneiro e os Cordeiros Desgarrados
Depois dessa nota histórica, vamos a um personagem caricato e controverso da política brasileira: Éneas Carneiro. O grande (com g minúsculo mesmo) especialista em ecocardiografia, defendia ideias ditas nacionalistas, a partir de uma lógica curiosa: Defender o Brasil a partir do poderio militar, da “moral” e dos “bons costumes” (muuuitas aspas nessa dita moral e mais um monte nos bons costumes), além do fim do plano Real, do não pagamento de contratos…
Mas, afinal, o que é ‘Nacionalismo’? De acordo com a ciência das Relações Internacionais (pela escola realista), nacionalismo é o senso de união e soberania de um povo. Ponto. É o sentido de sermos Livres para compartilharmos nossas semelhanças e discutirmos como IGUAIS nossas diferenças. Se você acha que não há nacionalismo no mundo liberal, “globalista” e “multiculturalista”, tente ofender um Norte-Americano, um Europeu, um Argentino ou um Chinês. Qualquer um deles vai ser defendido por aqueles que compartilham essas identidades, independente de você estar certo ou não.
Isso é nacionalismo. Simples, não? Um nacionalismo saudável se define pela compreensão de que, independentemente da origem, todos somos brasileiros e desejamos um Brasil igual, fraterno e igualitário para todos nós sem excessão – e por nós, queremos dizer isso mesmo, TODOS nós – homens, mulheres, cis e transgêneros, pessoas de todas as matrizes religiosas, enfim: todos – MENOS fascistas. Ser nacionalista é sentir orgulho da colcha-de-retalhos cultural de sua própria nação, independentemente da origem, raça ou credo daquelas pessoas que fazem parte desse coletivo humano: É só lembrarmos do fundador de nosso partido e seu Socialismo Moreno, livre das interdições culturais (diga-se racismo, xenofobia, reacionarismo, e conceitos de “superioridade” Europeias e Euroasiaticas) e de olho na nossa emancipação através de todas as forças democráticas.
E por que usamos o termo fascismo?
O vira-lata caramelo e o apito de cachorro
Agora que definimos o que é nacionalismo, dá para dizer que, quando você diz “Nacionalismo”, vários vira-latas caramelos ficam no cio (como diria Brecht) e começam a sentir cheiro de comida. Apropriando-se gradualmente das bandeiras pelas quais Jango foi deposto, envenenando a imagem de Brizola e de tantos outros verdadeiros nacionalistas perseguidos – começaram a pregar suas ideias com aroma de Itália de 1930: Determinam um inimigo (historicamente, miram judeus, gays, liberais e as ditas ‘minorias sociais’), dizem que estamos numa luta contra alguma “Ordem mundial, Illuminati, Protocolos de Sião’ ou qualquer coisa que beira o delírio conspiracionista mirabolante digno de filmes financiados pelo NRA¹ (ou pela Joice Hasselman) dos Estados Unidos.
O termo “fascismo”, nos últimos anos muito banalizado por setores da esquerda como o PT (lembram-se do “quem não vota Lula não tem dignidade“?), acabou perdendo parte do seu sentido original – e além disso, enquanto organismo vivo, o fascismo também sabe se reinventar no discurso público a fim de passar a imagem de movimento nacional-progressista. O fascismo sempre se valeu de minar os discursos da esquerda, e do nacionalismo, se infiltrando, aliando-se ao neoliberalismo como forma de combate à esquerda – essa, sim, progressista e democrática em sua raiz.
O germe do fascismo é, infelizmente, resiliente às democracias – Ele prospera e se multiplica em sociedades com liberdade de pensamento e visa, gradativamente, usar a liberdade de expressão para suprimir a expressão da liberdade daqueles que não são considerados membros do grupo. Sob o governo Bolsonaro, estamos assistindo ao vivo esse processo de radicalização do discurso e esse verdadeiro sequestro de pautas – e, através do discurso petista, somos tachados de “traidores do Brasil”. E é justamente nessa intersecção – a do fascismo com a esquerda nas pautas nacionais – que essa galera se apoia. O fascismo entra no discurso por meio dos circuitos de afetos – ou seja, sua retórica busca dialogar com os mais profundos medos e angústias das pessoas, oferecendo a elas respostas fáceis a problemas complexos. Falta emprego? Culpa do estrangeiro! Acabe com a tecnologia! Falta dinheiro? Culpa de alguma minoria que supostamente domina o mundo! Falta ordem? Vamos buscar autoridade a qualquer custo – inclusive humano!
“Nacionalistas” que se dizem anti-liberais, conservadores (ou o apelido que eles preferirem) são lobos euroasiáticos em pele de capivara.
O Lobo-Guará e a Revolução dos Bichos
Goste-se ou não, é inegável que nós nascemos em berço liberal. Eventos históricos como a Revolução Francesa ou a Independência Americana – ou até a Revolução Bolchevique e Chinesa – surgem seja da aceitação integral ou da revisão radical dos processos do liberalismo de Locke, de Smith, de Marx e outros. Logo, declarar-se anti-liberal é também declarar-se contrário aos processos da evolução da História e ao Socialismo – pregando um retorno a um suposto ‘passado perfeito’ onde minorias não tinham voz e o Poder era compartilhado apenas entre autoritários e conspiracionistas.
O que então esses grupos defendem? Na preguiça de olhar para o espelho, infiltram-se na militância da esquerda histórica nacional para defender uma nação totalitária onde são eles que definem o que é certo e errado – infelizmente, Igualdade e progresso não são lá do gosto deles.
E isso, meu camarada trabalhista, é fascismo.
Mas nada mais distante de nós trabalhistas do que essa galera. Fiquemos alertas!
Vamos às oposições! Defendemos que temos de nos resolver com nossa história, criando uma ideia de nação que entenda todos os brasis – fomos nós, os trabalhistas, que transformamos o racismo em crime (a partir de Abdias, o Exu Rei), que elegemos o primeiro indígena, e que combatemos a tentativa de golpe de 61, protegendo a democracia brasileira, com Leonel Brizola heroicamente se organizando contra o golpe nacional-estrangeiro da ditadura brasileira. E, urgentemente, devemos observar e identificar aqueles que usam o nacionalismo, o trabalhismo e a esquerda para se infiltrar dentro de nossas militâncias.
1 – NRA (National Rifle Association) é uma associação lobista anti-controle de armamentos e a favor de pautas reacionárias nos Estados Unidos. Financiaram grande parte da campanha de Donald Trump e apoiam grupos como os Proud Boys.
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