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CPI contra padre Júlio Lancellotti – Após um vereador entrar com um pedido de formação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o padre Júlio Lancellotti, o jornalista Octavio Guedes usou de ironia para comentar a investida da extrema direita paulistana na Câmara Municipal de São Paulo.
O pedido de CPI foi protocolado pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil), ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) e ex-advogado do ex-deputado estadual Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, cassado pela Alesp em 2022 por quebra de decoro parlamentar após dizer – durante viagem à Ucrânia durante o conflito com a Rússia – que mulheres ucranianas são “fáceis porque são pobres”.
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“Há motivos de sobra para estender a CPI da Batina, levantada contra o Padre Júlio Lancellotti, a Cristo”, afirma Octavio Guedes em seu blog no G1.
O jornalista continua e diz que não faltam motivos para incluir Jesus entre os investigados, listando:
- Ofendeu a tradicional família e o cidadão de bem ao andar com uma prostituta;
- Ofendeu a igreja, denunciando a ganância e hipocrisia de líderes religiosos;
- Promoveu vandalismo num templo religioso;
- Atacou a meritocracia, dizendo que os últimos serão os primeiros;
- Em vez de fazer arminha com as mãos, ficava com papinho de perdão, amor ao próximo;
- Além de tudo, era barbudinho!
Guedes ainda termina o texto com uma provocação aos vereadores que apoiam a proposta de criação da CPI. “É isso aí, vereadores: conhecereis a verdade, e a verdade os libertará”.
“Investigar ONGs”
No pedido, o vereador diz que a comissão tem a “finalidade de investigar as Organizações Não Governamentais (ONGs) que fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários que frequentam a região da Cracolândia”.
Segundo Rubinho Nunes, “a atuação de Organizações Não Governamentais (ONGs) é de suma importância”, no entanto, “a atuação dessas ONGs não está isenta de fiscalização, sendo necessária a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), até porque, algumas delas frequentemente recebem financiamento público para realizar suas atividades”.
“Uma CPI pode avaliar a eficácia dos programas oferecidos pelas ONGs, determinando se elas estão alcançando os resultados desejados”, diz o requerimento, que foi assinado por ao menos 24 vereadores, do total de 55.
Vereadores da oposição reagiram à proposta e avisaram que farão de tudo para impedir a instalação da CPI. Em nota, a Mesa Diretora da Câmara informou que o tema será tratado no Colégio de Líderes, na volta do recesso parlamentar, que acontece em fevereiro.
Em suas redes sociais, padre Júlio afirmou que não pertence a nenhuma ONG e que a “atividade da Pastoral de Rua é uma ação pastoral da Arquidiocese de São Paulo na Cracolândia” (leia a íntegra mais abaixo).
Também em nota, a Arquidiocese de São Paulo informou que “acompanha com perplexidade” a possível abertura de uma CPI que investigaria a conduta do padre.
Padre e Arquidiocese se manifestam
Confira a íntegra da nota do padre Júlio Lancellotti abaixo:
“A instalação da CPIs é uma prerrogativa do poder Legislativo, sendo legítimas em suas atribuições. As CPIs devem ter um objetivo delimitado em sua criação, sendo que neste caso, pelo que se tem notícias, o abjeto que trouxe base para criação desta CPI seria a investigação/fiscalização das “Organizações Não Governamentais ONGS) que fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários que frequentam a Cracolândia”. Ou seja, seria a fiscalização do cumprimento de convênios estabelecidos entre o Poder Público e as organizações conveniadas.
Esclareço que não pertenço a nenhuma Organização da Sociedade Civil ou Organização Não Governamental que utilize de convênio com o Poder Público Municipal. A atividade da Pastoral de Rua é uma ação pastoral da Arquidiocese de São Paulo, que por sua vez, não se encontra vinculada de nenhuma forma às atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado para criação da CPI em questão.”
A Arquidiocese de São Paulo, também em nota, informou que acompanha “com perplexidade as recentes notícias veiculadas pela imprensa sobre a possível abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que coloca em dúvida a conduta do Padre Júlio Lancellotti no serviço pastoral à população em situação de rua”.
“Na qualidade de Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, Padre Júlio exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade. Reiteramos a importância de que, em nome da Igreja, continuem a ser realizadas as obras de misericórdia junto aos mais pobres e sofredores da sociedade”, acrescentou a Arquidiocese.
(Com informações de G1)
(Foto: Montegem/Reprodução)