Share This Article
Queda na Selic – O mercado espera uma queda mais rápida da Selic nos próximos meses, diante da melhora da percepção de risco e da redução das expectativas de inflação no Brasil. O nível de aperto monetário na economia ainda é alto, mas a curva de juros já reflete uma flexibilização indireta. Alguns economistas defendem que o BC seja mais agressivo no início do ciclo de cortes, para reancorar as expectativas de longo prazo.
Central sindical pede saída de Campos Neto após BC manter juros
“O nível da Selic em 13,75% era condizente com um cenário muito negativo das expectativas de longo prazo. De repente, o nível de desancoragem caiu pela metade, com risco de ir ainda mais para baixo. Isso abre espaço para que o BC seja um pouco mais agressivo neste começo de ciclo, justamente para poder fazer frente a essa reancoragem das expectativas. É como se fosse uma resposta”, defende o economista-chefe da Genoa Capital, Igor Velecico.
Cenário doméstico e externo trazem argumentos opostos
O argumento doméstico, que aponta para uma desaceleração da demanda e uma convergência das expectativas de inflação para a meta, reforça a tese de um corte maior da Selic em agosto. Porém, o cenário externo, com a possibilidade de mais altas de juros nos EUA, traz incerteza e risco para os emergentes. Alguns economistas argumentam que o BC deve se adaptar às mudanças do cenário e não se prender à comunicação anterior. Várias instituições financeiras projetam uma redução de 0,5 ponto nos juros em agosto, seguindo a melhora das expectativas de inflação.
“Vivemos em um país emergente, onde, em 45 dias, o cenário pode mudar bastante. O que vimos foi uma reação das expectativas que pouca gente esperava. Não vejo um corte de 0,5 ponto em agosto como um ato de rasgar a comunicação, já que o BC estaria respondendo a uma melhora do cenário que se materializou nas expectativas”, enfatiza Velecico.
Divergência entre instituições sobre ritmo de cortes
A Novus Capital projeta um ciclo de cortes de 0,5 ponto por oito reuniões, levando a Selic a 9,75% em 2024. A gestora se baseia na queda das expectativas de inflação e na taxa de juro real elevada.
“Temos a impressão de que, se começar com um corte de 0,50 ponto, o BC vai preferir manter o ritmo porque o ambiente global não está fácil”, diz o economista-chefe da Novus, Tomás Goulart.
O Santander, por outro lado, espera um corte de 0,25 ponto em agosto e uma Selic de 10,5% em 2024. O banco segue a parcimônia sinalizada pelo BC e considera o modelo do BC, que depende das expectativas de inflação para 2024 e 2025. “Obviamente, o Focus terá muito peso, principalmente nos modelos do BC, mas o horizonte continua a abarcar, predominantemente, o ano de 2024”, diz o superintendente de pesquisa econômica do Santander, Mauricio Oreng.
Lula volta a atacar Campos Neto e cobra queda de juros
O presidente Lula disse que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, é “teimoso” e “tinhoso” e que as taxas de juros vão cair no Brasil em breve. Lula fez a crítica na sua “live” semanal nas redes sociais, após elogiar a aprovação da reforma tributária e do voto qualificado do Carf no Congresso. Lula afirmou que a economia está crescendo, o dólar está caindo, a inflação está caindo e que não há mais explicação para manter a Selic em 13,25% ao ano. O BC vem sendo pressionado pelo governo há meses para reduzir a taxa básica de juros.
Queda dos preços foi influenciada por alimentos e bebidas e transportes
O IPCA, a inflação oficial do país, registrou uma queda média dos preços de 0,08% em junho, a primeira deflação desde setembro de 2022 e a menor para o mês desde 2017. O resultado foi puxado pela baixa nos preços de alimentos e bebidas e transportes. Segundo o IBGE, os dois grupos contribuíram, sozinhos, com -0,22 ponto percentual no índice do mês.
Inflação acumulada no ano é de 2,87%
No ano, o IPCA acumulou alta de 2,87%. É a menor variação para o primeiro semestre desde 2018, quando foi registrada uma alta de 2,60%. Em junho de 2022, a inflação foi de 0,67%.
Inflação em 12 meses fica abaixo do centro da meta
Em 12 meses, a taxa ficou em 3,16%. Ficando, assim, abaixo dos 3,94% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. A taxa em 12 meses é a menor desde setembro de 2020 (3,14%).
A inflação em 12 meses passou a ficar abaixo do centro da meta do governo de 3,25% para 2023. A meta prevê uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, para mais ou para menos. A expectativa do mercado é de que a inflação feche o ano em 4,95%.
Veja como ficaram os preços dos principais grupos pesquisados
Entre os nove grupos pesquisados pelo IBGE, seis tiveram queda nos preços em junho. Os maiores recuos foram observados em alimentação e bebidas (-0,66%) e transportes (-0,41%). Por outro lado, os maiores aumentos foram registrados em habitação (0,69%) e despesas pessoais (0,36%).
Inflação para cada um dos grupos:
- Habitação: 0,69%
- Despesas pessoais: 0,36%
- Vestuário: 0,35%
- Saúde e cuidados pessoais: 0,11%
- Educação: 0,06%
- Comunicação: -0,14%
- Transportes: -0,41%
- Artigos de residência: -0,42%
- Alimentação e bebidas: -0,66%
(Informações de Valor/Globo e UOL)
(Foto: Reprodução)