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Rafael Correa critica pautas identitárias – Ex-presidente do Equador, Rafael Correa criticou como os movimentos políticos de esquerda têm cada vez mais se resumido a defender pautas identitárias. Para ele, os temas geram divisão e desviam do foco histórico da esquerda, que é o combate à pobreza e à desigualdade.
“É um erro colocar isso [temas identitários] como central em nossa agenda. Sim, são problemas, e têm que ser tratados com muito respeito. Mas nem sequer resolvemos os problemas do século 18, as grandes contradições, a pobreza generalizada, a desigualdade, a exploração. E nos metemos a tentar resolver e ser vanguarda do mundo de problemas de última geração.”
Em entrevista ao jornalista Fábio Zanini, da Folha de S.Paulo, ele disse que se identifica como um político de esquerda, mas tem posições consideradas conservadoras em temas como aborto e identidade de gênero.
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“Alguns estão na fronteira da questão moral, são polêmicos. Se ser progressista é assinar esse checklist, não sou progressista. Ficamos discutindo isso, e o que, sim, gera consenso na esquerda, a pobreza, a desigualdade, deixamos de tratar”, argumentou.
Para ele, colocar a esquerda para discutir questões morais impopulares e polêmicas é uma estratégia “do norte”, em referência aos Estados Unidos e países europeus, e da direita.
“É estratégia colocar para nós estes temas conflituosos para nos distrair do essencial: que estamos no continente mais desigual do planeta. E hoje ficamos brigando sobre casamento gay, aborto em qualquer momento. Se Che Guevara estivesse contra o aborto sendo médico, não seria mais de esquerda? Se [Augusto] Pinochet estivesse a favor de aborto e casamento gay, não seria de direita?”, questionou.
Perguntado, então, sobre o que definiria a esquerda, Correa respondeu com uma única palavra: justiça.
“É preciso haver justiça de gênero, por exemplo. Não se pode permitir que no mesmo trabalho a mulher ganhe menos ou que tenha que ficar em casa para o homem trabalhar, cuidar dos filhos, e o homem não. Isso é justiça. Mas vêm as feministas e dizem que justiça é poder abortar quando a mulher quiser. Aí vem a polêmica.”
Rafael Correa foi presidente do Equador de 2007 a 2017 e atualmente vive na Bélgica, país natal de sua esposa. À distância, ele lidera a oposição ao atual presidente de centro-direita, Guillermo Lasso.
Ele esteve no Brasil na semana passada a convite do PSOL, do MST e outros movimentos sociais.
(Com informações de: Folha de S.Paulo)
(foto: reprodução)